segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

O CICLO VICIOSO DA CRISE DE REPRESENTAÇÃO



por Rafael Xavier


O  jornal O Globo, publicou no último domingo (12) reportagem assinada por Eduardo Bresciani  onde escancara a falta de democracia interna dos partido políticos brasileiros.

De acordo com a publicação,  quase a metade dos diretórios regionais dos 10 maiores partidos do País é comandada por comissões provisórias indicadas pela cúpula nacional das legendas[i]. Isto é, não há eleição para escolha de dirigentes, nem renovação via eleições internas. Ao invés disso,  os comandos nacionais designam um pequeno grupo denominado de  “comissão provisória”, como responsável por gerenciar as siglas.

As comissões provisórias, como o próprio nome sugere, são de duração curta e limitada. Em tese, teriam como único escopo, organizar a convenção partidária e, esta, gerenciar o funcionamento dos diretórios municipais.

Os dirigentes Estaduais indicados para assumir tais órgãos, não possuem segurança para gerenciá-lo, o fazem em caráter precário, pois se submetem ao crivo da direção nacional para serem reconduzidos ao posto, estando sujeitos a serem destituídos ao termino dos 90 dias de duração das Comissões, caso não cumpram com as determinações impostas pelo órgão imediatamente superior.

A situação relatada pelo periódico já seria grave se os únicos partidos existentes no Brasil fossem os 10 maiores e que foram alvo da reportagem, porém existem  28 partidos políticos representados no Congresso Nacional[ii]. Se a situação dos 10 maiores está longe de ser democrática, a dos 18 menores é ainda pior.

O problema se agrava nos Estados. O exemplo dos órgãos nacionais é reproduzido em larga escala nos diretórios Regionais, onde a intervenção nos diretórios municipais é praxe para manutenção de cabos eleitorais obedientes e para a não proliferação de novas correntes e grupos ideológicos.  Mesmo PMDB e PT, maiores partidos do Brasil e que possuem organização estruturada em todos os Estados da Federação, pecam (talvez um pouco menos que os demais) nos municípios.

O resultado desta desorganização aparentemente bem organizada é o distanciamento da sociedade da vida orgânica das siglas. Não há democracia interna, manda quem pode, obedece quem tem estômago para se sujeitar.  Deste modo, os caciques mantém o controle das legendas, não precisam renovar seus diretórios nem reforçar a relação com o eleitor, perpetuando uma casta de seguidores complacentes com seus métodos.

Diante do exposto fica mais fácil entender as alianças pragmáticas e os acordos aparentemente inimagináveis para compor governos de coalisão.

Fica evidente, inclusive, que o distanciamento ideológico dos representantes eleitos pelas agremiações carece de legitimação basilar, uma vez que muitas das convenções  que escolhem candidatos aos cargos eletivos são viciadas, não designando obrigatoriamente para concorrer a cargo eletivo, o candidato mais identificado com o programa partidário da própria legenda.

O resultado é devastador: partidos sem identidade, eleitores confusos e um sistema sem credibilidade.

Não há democracia sem partidos políticos, mas eles precisam cumprir sua finalidade constitucional de representação popular.





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